segunda-feira, 3 de junho de 2013

Folclore?



O Saci

Quem nunca ouviu falar em assombração, mula sem cabeça, lobisomem. Mas, o mais afamado é sem dúvidas o saci Pererê. Contam os antigos que se trata de um negrinho com uma perna só e cachimbo na boca, vive na mata, nasce no bambuzal e faz traquinagens nas fazendas vizinhas de sua morada. Não chega a machucar ninguém, só faz tranças nos rabos dos cavalos, esconde coisas das pessoas e anda dentro de um redemoinho.
O que me intriga nesse personagem é, será verdade desse povo, que jura ter visto o bichinho, ou a lenda acaba transformando a imaginação num lapso de memória e não se sabe mais se existe ou não tal personagem.
Tive oportunidade de conhecer uma estória que, não deu, no momento para questionar o narrador, pois o que era brincadeira ficou sério.
Fomos a uma fazenda, próximo à cidade de Itararé, no sul de São Paulo, com meu irmão mais velho, o Benedito Topógrafo, fazer a chamada medição de terra, serviço duro, em que tínhamos que andar pra lá e pra cá com réguas, facão, e outras “cositas mas”. Devido a distancia ficávamos finais de semana acampados na propriedade. O que tem de interessante nisso tudo, é que, o dono da fazenda, possuía um alambique de cachaça artesanal e, toda tarde, distribuía aos funcionários, pelo menos uma garrafa da “marvada” a cada família, que era pra abrir o apetite, na hora da janta. Excelente ideia, só que todo mundo sabe que, quando se exagera, até disco voador o povo vê, né?
Bom! Um dia cansativo de trabalho eu, meu mano  e mais um companheiro, de ajudante, que havia ido conosco, paramos para tomar um café, e aproveitar pra bater um papo. Como a fazenda era muito grande, nos acompanhava um senhor, de quase oitenta anos de idade, e, era um típico homem da roça, acostumado a abrir picadas na mata e grande conhecedor de foice e enxada. Um senhor de muito respeito, que pouco falava, daqueles que só abrem a boca quando necessário.
Conversa vai, conversa vem e chegamos ao assunto de mula sem cabeça, boi tatá e outros, quando nosso companheiro, falante que era, disse:
- Eu não acredito nessas estórias aí não. Essas coisas não existem!
Perdeu de ficar quieto, o senhor calado se levantou e, com o machado na mão, falou:
- Então estão me chamando de mentiroso!
Sentou-se e contou sua história (estória):
- “Quando arrumei muié, meu sogro me disse: Aquele mato é seu, cê pode pegá a fia e construir sua casa lá. Só que, eu quero que cê limpe a área e faça sua morada no meio do mato. Como era costume da famía.
Depois do casamento fiz minha casinha e fui limpano aos poucos em volta da cholpana, cavei poço, fiz hortinha, galinheiro, fossa e quando já fazia uns anos de casado foi que aconteceu.
Tava de tardinha, e, eu carpino o arroizinho, que tinha plantado pro gasto, que escutei um barulho no meio do mato. Parei a enxada, e fiquei quietinho, foi quando vi passar, na minha frente, uma saci, pulando, com um gorrinho vermelho na cabeça e um sacizinho no colo e logo atrás veio um baita sacizão, gordo, com um pito na boca e apressados que nem olharam pro meu lado”.
Naquele momento, de apreensão eu não aguentei e soltei:

- Certeza que estavam levando o nenenzinho no médico!

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